Tarifas americanas e impacto no Brasil

Uma coluna especial com o Dr. Roberto Furian Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), ex-diretor da Petrobras e diretor das Câmaras de Comércio Brasil-Estados Unidos em Houston, Nova York e Rio de Janeiro. Com mais de 35 anos de carreira diplomática, Ardenghy é referência em temas como energia, petróleo e sustentabilidade. Conversamos com ele sobre o recente tarifaço imposto pelos Estados Unidos e seus impactos para o Brasil.


Qual o impacto imediato desse decreto sobre  as exportações do agro brasileiro aos EUA?

“Varia conforme o tipo de produto exportado. Itens como a castanha-do-pará e o suco de laranja, por exemplo, ficaram de fora das novas tarifas e não devem enfrentar mudanças no curto prazo. Já produtos relevantes, como as carnes, entram na lista e passam a ser taxados em até 50%. Isso, naturalmente, compromete a competitividade desses itens no mercado americano e acende um sinal de alerta para o setor exportador brasileiro”.

O Brasil, como um dos maiores exportadores agrícolas, deveria rever sua dependência de mercados como os EUA?

“Sem dúvida. É quase uma obrigação do exportador buscar a diversificação, encontrar outros mercados, em outros países ou continentes. Claro que não é simples – os Estados Unidos têm uma economia muito forte, com enorme capacidade de compra. Mas, justamente por isso, quando acontece uma ruptura como essa, o impacto é profundo. O tarifaço imposto escancara o risco de uma dependência excessiva. Por isso, é fundamental trabalhar uma estratégia de ‘multiclientes’: quanto mais distribuído for o destino das exportações, maiores as chances de compensar perdas em um mercado com ganhos em outro. Essa é uma primeira lição .” 

Como esse decreto afeta o setor de bioenergia?

“De formas diferentes. No caso do etanol, o comércio bilateral fica praticamente inviabilizado. Além da produção americana ser gigantesca, baseada no milho, agora enfrentamos a alta da tarifa, somada às barreiras não tarifárias que já existiam. Isso torna a competitividade do nosso etanol muito baixa no mercado americano. Já no caso do biodiesel, o impacto é quase nulo – o Brasil não é exportador relevante do produto. Pelo contrário, somos grandes consumidores: hoje, o biodiesel representa cerca de 14% do volume de diese na nossa matriz de transporte e, nos próximos anos, essa proporção pode chegar a 18%. Ou seja, nesse segmento específico, a medida americana não nos afeta diretamente.” 


Existe alguma ponte entre o agro e o setor de petróleo que deveríamos olhar com mais atenção?

“Com certeza. A ligação entre o agro e o setor de petróleo é histórica e muito forte. São setores umbilicalmente conectados – não há atividade agrícola sem consumo de derivados de petróleo. O agro é, hoje, o maior consumidor de diesel no Brasil. Por outro lado, as distribuidoras e empresas de combustíveis dependem intensamente desse mercado e produtos do agro (etanol e biodiesel) compõem o mix de combustíveis no Brasil. Ou seja, existe uma relação de cooperação entre os setores. Em várias ocasiões, atuamos juntos em Brasília, em pautas comuns, como o licenciamento ambiental e a defesa da não tributação sobre produtos exportados. É uma agenda compartilhada, que fortalece os dois lados.”

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